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NOTA DE REPÚDIO DO GRUPO ARCO-ÍRIS EM RELAÇÃO À MATÉRIA DA REVISTA ÉPOCA SOBRE A PREP

NOTA DE REPÚDIO DO GRUPO ARCO-ÍRIS EM RELAÇÃO À MATÉRIA DA REVISTA ÉPOCA SOBRE A PREP

 

O Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT é uma organização não-governamental, atuante há 25 anos na cidade do Rio de Janeiro. Neste tempo vem pautando sua agenda voltada para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais, homens trans e pessoas intersexo, com o enfoque na cidadania, promoção dos direitos humanos e de uma cultura de paz, combate à violência, justiça social, prevenção e atenção em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais entre outras questões que busquem a melhoria da qualidade de vida dessa população.

 

O Grupo Arco-Íris vem expressar o seu repúdio ao artigo “O Novo Azulzinho” escrito pelo jornalista Danilo Thomaz para a revista Época nº1031, da Editora Globo, lançada em 02 de abril de 2018.

 

Com a chamada “A PrEP está mudando o comportamento sexual de grupos de risco, sobretudo dos gays. Eles estão abandonando a camisinha, contribuindo para o aumento de doenças sexualmente transmissíveis”, a reportagem reforça estigmas para a comunidade LGBT – ainda que seja direcionada especificamente para gays, boa parte da sociedade ainda compreende os segmentos da sigla como uma coisa só – acentuando uma pecha de promíscuos e de vetores, como se estes fossem os grandes responsáveis por propagar infecções sexualmente transmissíveis.

 

Esclarecemos que o termo “Grupo de Risco” não mais se utiliza por sua conotação pejorativa e segregadora. Todos os seres humanos, justamente por sua condição fisiológica natural estão em condições de risco e de sofrer impactos em sua saúde por agentes patogênicos. O que ocorre é o fato de alguns indivíduos, por questões sociais, físicas e/ou comportamentais encontram-se mais vulneráveis a sofrerem impactos em sua saúde. Também, ressaltamos que os comportamentos sexuais estão relacionados com várias questões subjetivas e que não cabe a nenhum de nós fazer juízo de valor sobre com quem ou quantos parceiros determinado indivíduo se relaciona. Se levarmos em conta a avaliação da Organização Mundial de Saúde, uma pessoa que se relaciona com mais de três parceiros num período de 12 meses é considerada promíscua. Desta forma, o Brasil pode ser considerado o “país da promiscuidade”, já que de acordo com pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em 2008, 11,5 milhões de brasileiros, de ambos os sexos e orientações sexuais, entre 15 e 54 anos, admitiram ter tido mais de cinco parceiros no ano.

 

A afirmação de que gays estão abandonando a camisinha não pode ser tomada como uma regra, pois carece de estudos mais específicos, inclusive para entender onde e como isso acontece – já que nosso olhar muitas vezes se limita aos grandes centros metropolitanos, e se esquece de que vivemos num país continental – e em qual contexto isso poderia acontecer. Não podemos deixar de levar em conta que o conflito prevenção versus prazer sempre foi e será uma questão relevante para qualquer ação de saúde pública.

 

A matéria desvirtua ainda e pouco esclarece o que seria a prevenção combinada, estratégia que consiste na liberdade do indivíduo em escolher qual a melhor forma de se prevenir numa relação sexual, combinando o preservativo com outras metodologias de proteção aos agentes patogênicos (PEP, PrEP, microbicidas, testagem de hiv, sífilis e hepatites virais, imunização por vacinas, serosorting, etc) ou práticas sexuais menos suscetíveis às infecções por estes (redução de risco, sexo sem penetração, etc.).

 

Consideramos a matéria um desserviço, com erros grosseiros de conceitos, confundindo a mente do leitor e reforçando preconceitos sobre o que seria a PEP (Profilaxia Pós Exposição ao vírus HIV) e a PrEP (Profilaxia Pré Exposição ao vírus HIV). Ainda abusa do termo “contaminação”, que semanticamente possui um conceito de alteração nociva da pureza ou das condições normais de uma coisa. O mais aceito sob a ótica dos direitos humanos seria infecção.

 

Questionamos se no texto os trechos sensacionalistas e alarmistas não fazem coro com uma pauta moralista contextualizada no cenário dos retrocessos e caretices capitaneadas pelos setores conservadores e religiosos obscurantistas.

 

Entendemos a PrEP e a prevenção combinada como estratégias muito bem-vindas a fim de contribuir para a diminuição da epidemia de HIV/Aids no Brasil e no mundo, principalmente entre os mais jovens e vulneráveis. Por fim, esperamos apenas duas coisas do jornalismo sério: Ética e Imparcialidade!

 

Rio de Janeiro, 03 de abril de 2018

 

 

 

Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT